quarta-feira, 30 de setembro de 2009

História dos surdos através dos tempos (parte 3)


OS SURDOS ATÉ O SECULO XX
O ano de 1880 foi o clímax da história dos surdos, que adicionou a força de um lado de muitos períodos de duelos polêmicos de opostos educacionais: a língua de sinais e o oralismo. Em 1880 foi realizado um Congresso Internacional de Professores de Surdos em Milão, Itália, para discutir e avaliar a importância de três métodos rivais: língua de sinais, oralista e mista (língua de sinais e o oral). Os temas propostos foram: vantagens e desvantagens do internato, tempo de instrução, número de alunos por classe, trabalhos mais apropriados aos surdos, enfermidades, medidas, medidas curativas e preventivas, etc. Apesar da variedade de temas, as discussões voltaram-se às questões do oralismo e da língua de sinais.
Nenhum outro evento na historia dos surdos teve um impacto maior na educação de povos surdos como este que provocou uma turbulência séria na educação que arrasou por mais de cem anos nos quais os sujeitos surdos ficaram subjugados ás práticas ouvintistas, tendo que abandonar sua cultura, a sua identidade surda e se submeteram a uma ‘etnocêntrica ouvintista’, tendo de imitá-los.
O Congresso de Milão, em 1880, foi um momento obscuro na História dos surdos, lá um grupo de
ouvintes, tomou a decisão de excluir a língua gestual do ensino de surdos, substituindo-a pelo oralismo, o comité do congresso era unicamente constituído por ouvintes. Em consequência disso, o oralismo foi a técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX.
O Congresso durou 3 dias, nos quais foram votadas 8 resoluções, sendo que apenas uma (a terceira) foi aprovada por unanimidade. As resoluções são:
1. O uso da língua falada, no ensino e educação dos surdos, deve preferir-se à língua gestual;
2. O uso da língua gestual em simultâneo com a língua oral, no ensino de surdos, afecta a fala, a leitura labial e a clareza dos conceitos, pelo que a língua articulada pura deve ser preferida;
3. Os governos devem tomar medidas para que todos os surdos recebam educação;
4. O método mais apropriado para os surdos se apropriarem da fala é o método intuitivo (primeiro a fala depois a escrita); a gramática deve ser ensinada através de exemplos práticos, com a maior clareza possível; devem ser facultados aos surdos livros com
palavras e formas de linguagem conhecidas pelo surdo;
5. Os educadores de surdos, do método oralista, devem aplicar-se na elaboração de obras específicas desta matéria;
6. Os surdos, depois de terminado o seu ensino oralista, não esqueceram o conhecimento adquirido, devendo, por isso, usar a língua oral na conversação com pessoas falantes, já que a fala se desenvolve com a prática;
7. A idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os 8-10 anos, sendo que a criança deve permanecer na escola um mínimo de 7-8 anos; nenhum educador de surdos deve ter mais de 10 alunos em simultâneo;
8. Com o objectivo de se implementar, com urgência, o método oralista, deviam ser reunidas as crianças surdas recém admitidas nas escolas, onde deveriam ser instruídas através da fala; essas mesmas crianças deveriam estar separadas das crianças mais avançadas, que já haviam recebido educação gestual, afim de que não fossem contaminadas; os alunos antigos também deveriam ser ensinados segundo este novo sistema oral.
Uma década depois do Congresso de Milão, acreditava-se que o ensino da língua gestual quase tinha desaparecido das escolas em toda a Europa, e o oralismo espalhava-se para outros continentes.
Durante o século XX, em resultado da evolução nos campos da tecnologia e da ciência, particularmente no campo da surdez, a educação dos surdos passou a ser dominada pelo oralismo
(que encara a surdez como algo que pode ser corrigido). No entanto, sem a cura da surdez os insucessos do oralismo começaram a ser evidenciados, pois os surdos educados no método não os
ajudava a conseguir um emprego, comunicar com ouvintes desconhecidos ou manter uma conversa bem sucedida.
Entretanto, surge o primeiro aparelho auditivo, em 1898. Na Antiguidade, os aparelhos usados eram cornetas, ou tubos acústicos, mas a ampliação electrónica começou com Bell, em 1876, quando inventou o telefone com a intenção de amplificar o som para a sua esposa e mãe, ambas surdas.
Essa ideia que é concretizada em 1900, em Viena, por Ferdinand Alt. Só em 1948 surgem aparelhos com pilhas incorporadas e em 1953 começou a ser usado o transístor em próteses. Em 1970 aparecem as primeiras tentativas de implantação coclear. Esse tipo de implante sempre gerou muita controvérsia nas comunidades surdas em todo o mundo. Os argumentos a favor do implante resumem-se ao acesso à língua oral, na idade crítica de aquisição, que a cirurgia é simples e segura e com a possibilidade de proporcionar à criança de ter uma vida social com som, e não com deficiência. No entanto, a comunidade surda, como um todo, é contra a implantação coclear em crianças surdas, antes da aquisição da linguagem. Pensa a comunidade que obrigar a criança surda a ser ouvinte, mesmo não sendo, influencia outros a negligenciar necessidades e meios de apoio à deficiência. Muitos médicos recomendam que o implante coclear seja acompanhado com a língua gestual, especialmente nos primeiros anos da criança, afim de assegurar o pleno desenvolvimento cognitivo da criança. Segundo fontes médicas, os riscos do implante coclear incluem: infecção, vertigem, estimulação retardada, forte exposição a campos magnéticos, necessidade de acompanhamento médico por toda a vida.
Em 1920, antes da chegada dos nazista ao poder, surgiu nos EUA e na Alemanha um movimento da comunidade médica, com apoio das sociedades em questão, em prol da esterilização de doentes mentais e psicopatas criminosos (na Alemanha este movimento ficou conhecido como higiene racial). Em 1933, com a chegada dos nazistas ao poder, este movimento teve suporte político. Nesse mesmo ano, na Alemanha, foi aprovada uma lei para esterilizar as pessoas portadoras de doenças genéticas transmissíveis, incluindo a surdez. Na época, Berlim continha cerca de vinte e cinco comunidades de Surdos.
Em Junho de 1933, o jornal alemão mencionou o primeiro Surdo a pertencer às S.A. e uma unidade militar composta dos Surdos; um ano mais tarde, esta unidade foi dissolvida, sob pretexto de que o grupo não reunia o perfil da imagem do nazismo ideal. Dados comprovam que, em 1937, 95% das crianças surdas pertenciam à juventude hitleriana, tendo a letra G (em alemão, inicial de gehoerlosan) marcada no ombro do casaco. Posteriormente, assim que começou a guerra, a Alemanha passou da esterilização para a eutanásia, tanto por razões económicas, como por razões ideológicas. Em 1941, era comum o uso de eutanásia nos hospitais, onde eram mortos bebés com deficiência, incluindo surdos. Posteriormente, tornou-se comum a prática do aborto, que era aplicada quando se suspeitava que os fetos poderiam ter deficiências congênitas, ou qualquer tipo de doença, como no caso da surdez. Poucos surdos escaparam, sobrevivendo em guetos e nos campos de concentração na Alemanha, Polónia e Hungria.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

CONVITE ESPECIAL


Querido (a), no dia 26/09 é o dia nacional do Surdo. Nós do ministério com surdos IBACEN convidamos você a nos unir em oração. Estaremos reunidos como igreja em uma tarde de oração pela vida dos surdos do Brasil. Seja onde você estiver, não deixe de clamar pela salvação dos surdos brasileiros. Você que mora perto da IBACEN desafio você a estar conosco no dia 26/09 ás 15h para levantarmos um clamor a Deus para que ele manifeste sua glória entre os Surdos do Brasil.

Seja onde você estiver, vamos romper as barreiras geograficas e estarmos juntos em oração por esta causa!


" Busquei entre eles um homem que levantasse o muro, e se pusesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse, mas a ninguém achei"

Ezequiel. 22.30

HISTÓRIA DOS SURDOS ATRAVÉS DOS TEMPOS (parte 2)



OS SURDOS NA IDADE MODERNA


“Foi na Idade Moderna que se distinguiu, pela primeira vez, surdez de mudez. A expressão
surdo-mudo, deixou de ser a designação do Surdo”


Na época moderna, ou Idade Moderna, quando o Renascimento busca resgatar os princípios que a Idade Média destruiu, a visão humanista que esse período apresenta viabiliza a libertação, em certo sentido, da pessoa surda. Antes eles eram vistos como seres castigados pelos deuses, e agora são pessoas que têm o direito a uma cidadania através da educação e socialização. Eram condenados à fogueira, agora são socializados. Não resta dúvida de que aconteceu uma mudança considerável nessa visão moderna, mas não se pode esquecer que o surdo ainda continua a sofrer por causa da sua cultura, que não foi aceita de maneira integral pelos teóricos desse período.


Antes o surdo não era considerado uma pessoa, agora existe a possibilidade de ele se tornar uma, desde o momento em que se transforme em um “ouvinte”, seja através da sua língua de sinais ou não. Vejamos alguns alguns teóricos desta época, seus pensamentos e práticas sobre as culturas surdas. Antes desse período, não há relato de ninguém que tenha se interessado pela causa dos surdos e isso certamente está ligado à visão renascentista predominante. Algo interessante que precisa ser frisado é que a história dos surdos, a partir deste período, sempre esteve vinculada à educção. A maioria dos livros que fala sobre os surdos e sua história segue a linha da pedagogia, ou seja, da ação educacional realizada com essas pessoas.


Um breve histórico dos principais teóricos:


a) PEDRO PONCE DE LEÓN
Pedro Ponce de León inicia, mundialmente, a história dos Surdos, tal como a conhecemos hoje em
dia. Para além de fundar uma escola para Surdos, em Madrid, ele dedicou grande parte da sua vida a ensinar os filhos Surdos, de pessoas nobres, nobres esses que de bom grado lhe encarregavam os filhos, para que pudessem ter privilégios perante a lei (assim, a preocupação geral em educar os Surdos, na época, era tão somente econômica). León desenvolveu um alfabeto manual, que ajudava os Surdos a soletrar as palavras (há quem defenda a ideia de que esse alfabeto manual foi baseado nos gestos criados por monges, que comunicavam entre si desta maneira pelo facto de terem feito voto de silêncio). Nesta época era costume que as crianças que recebiam este tipo de educação e tratamento fossem filhas de pessoas que tinham uma situação económica boa. As demais eram colocadas em asilos com pessoas das mais diversas origens e problemas, pois não se acreditava que pudessem se desenvolver em função da sua "anormalidade".


b ) JUAN PABLO BONET , aproveitando o trabalho iniciado por León, foi estudioso dos Surdos e
seu educador. Escreveu sobre as maneiras de ensinar os Surdos a ler e a falar, por meio do alfabeto manual. Bonet proibia o uso da língua gestual, optando o método oral.


c ) JOHN BULWER , médico inglês, acreditava que a língua gestual deveria possuir um lugar de
destaque, na educação para os Surdos; foi o primeiro a desenvolver um método para comunicar com os Surdos. Publicou vários livros, que realçam o uso de gestos.


d ) JOHN WALLIS (1616-1703), educador de Surdos e estudioso da surdez, depois de tentara
ensinar vários Surdos a falar, desistiu desse método de ensino, dedicando-se mais ao ensino da
escrita. Usava gestos, no seu ensino.


e ) KONRAH AMMAN , foi defensor da leitura labial, já que considerava que a fala era uma dádiva de Deus que fazia com que a pessoa fosse humana (não considerava os Surdos que não falavam como humanos). Amman não fazia uso da língua gestual, pois acreditava que os gestos atrofiavam a mente, embora os usasse como método de ensino, para atingir a oralidade.


f) CHARLES MICHEL DE L`ÉPÉE nascido em 1712, ensinava, numa primeira fase, os Surdos, por motivos religiosos. Muitos o consideram criador da língua gestual. Embora saibamos que a mesma já existia antes dele, L'Épée reconheceu que essa língua realmente existia e que se desenvolvia (embora a não considerasse uma língua com gramática). Os seus principais contributos foram:
• criação do Instituto Nacional de Surdos-Mudos, em Paris (primeira escola de Surdos do mundo);
• reconhecimento do Surdo como ser humano, por reconhecer a sua língua;
• adopção do método de educação colectiva;
• reconhecimento de que ensinar o Surdo a falar seria perda de tempo, antes que se devia ensinar-lhe a língua gestual.


g ) JACOB RODRIGUES PEREIRA , educador de Surdos que usava gestos mas sempre defendeu
a oralização dos Surdos. Nunca publicou nenhum dos seus estudos.


h) THOMAS BRAIDWOOD, fundou uma escola de Surdos, em Edimburgo (a primeira escola de
correcção da fala da Europa).

i) SAMUEL HEINICKE, ensinou vários Surdos a falar, criando e definindo o método hoje
conhecido como Oralismo.

j ) R OCH-AMBROISE CUCURRON SICARD foi um abade francês, famoso pelo seu trabalho
como educador de Surdos; Sicard fundou a escola de Surdos de Bordéus, em 1782, posteriormente sucedeu a L'Épée, como director do instituto criado pelo mesmo, também apoiou a criação de vários institutos de surdos em todo o país.

k ) PIERRE DESLOGES , francês, tornou-se surdo aos 7 anos, devido à varíola, foi defensor da
língua gestual, tendo sido autor do primeiro livro publicado por um surdo, onde revelava a sua
indignação contra as ideias do Abade Deschamps, que havia publicado um livro que criticava a
língua gestual. Desloges, a esse respeito, declarou o seguinte: ”Tal como o francês vê a sua língua
desvirtuada por um alemão que apenas conhece algumas palavras da língua francesa, penso que
devo defender a minha língua contra as acusações falsas deste autor”. Desloges, em seu livro, defende a ideia de que a língua gestual (Antiga Língua Gestual Francesa) já existia, mesmo antes do aparecimento das primeiras escolas de surdos, como criação dos surdos e sua língua natural.

l) JEAN ITARD, primeiro médico a interessar-se pelo estudo da surdez e das deficiências auditivas, usava os seguintes métodos nas suas pesquisas: cargas eléctricas, sangramentos, perfuração de tímpanos, entre outras.

m) JEAN MASSIEU foi um dos primeiros professores surdos do mundo.


n) LAURENT CLERC, surdo francês, educador, acompanhou Thomas Hopkins Gallaudet,
educador ouvinte, aos EUA, onde abriram uma escola para surdos, em Abril de 1817, a Escola de
Hartford. Gallaudet instituiu nessa escola a Língua Gestual Americana, passou ainda a seu usado o inglês escrito e o alfabeto manual. Em 1830, quando Gallaudet se reformou, já existiam nos Estados Unidos cerca de 30 escolas para surdos.

o) EDWARD MINER GALLAUDEt, filho de Thomas Gallaudet e também educador de surdos,
lutou pela elevação do estatuto do Instituto de Colúmbia a colégio. Esse colégio deu origem, em
1857, à Universidade Gallaudet, onde foi presidente por 40 anos.

p) HELLEN KELLER, na Alemanha. Hellen ficou cega e surda aos 19 meses de idade, por causa
de uma doença. Aos 7 anos Hellen havia criado cerca de 60 gestos para se comunicar com os
familiares. Anne Sulivan, a professora de Hellen, isolou-a do resto da família, conseguindo assim
disciplinar e ensinar Hellen. Sullivan ensina a Hellen usando o método de Tadona, que consiste em tocar os lábios e a garganta da pessoa que fala, sendo isso combinado com dactilologia na palma da mão. Hellen aprendeu a ler inglês, francês, alemão, grego e latim, através do braile. Aos 24 anos formou-se, em Radcliffe.

Nesse ínterim do desenvolvimento histórico, Alexander Graham Bell, cientista estadunidense,
trabalhava na oralização dos surdos. Casou com uma surda, Mabel. Bell era grande defensor do
oralismo e opunha-se à língua gestual e às comunidades de surdos, uma vez que as considerava
como um perigo contra a sociedade. Assim sendo, Bell defendia que os surdos não deveriam poder casar entre si e deveriam obrigatoriamente frequentar escolas normais, regulares. No entanto, em 1887 Bell, no Congresso de Milão, admitiu que os surdos deveriam ser oralizados durante um ano, mas se isso não resultasse, então poderiam ser expostos à língua gestual. Aqui então, a história dos surdos chegam ao seu climax. Esta luta entre o oralismo e a língua gestual continua até aos nossos dias.