quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Processo de Aquisição da Linguagem pelos sujeitos surdos


Um professor dos Estados Unidos chamado Noam Chomsky, expôs suas idéias acerca do conhecimento linguístico inato, o que chamamos de Teoria Inatista, ainda hoje muitos pesquisadores do mundo todo desenvolvem pesquisas linguísticas inspiradas nessa proposta inatista. Mas, a linguagem humana a que Chomsky se refere não é um objeto concreto no mundo, mas algo que existe em nosso cérebro. Outra Teoria denominada de Teoria de Princípios e Parâmetros (TPP), proposta por Chomsky e Lasnik, proprõe que existe uma estado inicial, chamdo de So, que é comum a todas as crianças. Este estado inicial é a Gramática Universal (GU). Segundo esses autores, de forma resumida, toda criança, aí podemos dizer, seja ela surda ou ouvinte, possui uma capacidade para adquirir uma linguagem, seja linguagem falada ou sinalizada, pois o cérebro já possui uma GU.


Partindo dessas idéias de Chomsky, quero esboçar os estagios da aquisição da linguagem fazendo um paralelo entre a criança surda e a criança ouvinte:


Quadros, em seu livro sobre: Teoria de Aquisição da Linguagem subdividiu tais estágios em dois períodos: Período pré-linguistico e período linguístico. Esboçarei o período pré linguístico.


1. Período pré linguistico:

Nos primeiros anos de vida, o bebê produz sons que não apresentam nenhum significado. No entanto, desde os três dias de nascimento o bebê já diferencia sons. Esses sons, que os linguistas denominam de "balbucio", apresentam uma organização progressiva. Inicia-se com vogais anteriores e consoantes guturais e, somente por volta dos seis meses, o padrão silábico do balbucio passa a ter uma organização CV, ou seja, consoante -vogal, e a criança passa a usar sílabas duplicadas e articular consoantes anteriores "p,m,b ( por exemplo: bububu, papapa, dadada). Independentemente do ambiente e das linguas com que os bebês estejam em contato, todas as crianças produzem o balbucio, ou seja, ele é um comportamento interno e não uma resposta aos estimulos externos. Por volta dos dez meses, o balbucio apresenta um padrão diferenciado, uma vez que os bebês passam a selecionar os sons usados em seu ambiente linguisticos. Quando finalmente utilizam os sons da língua a que estão expostos, entram na fase de produção de jargões, ou seja, produzem sons combinados, sem estrutura de palavra, mas que possuem o contorno melódico da língua materna, passando a produzirem enunciados como se conversassem com alguém.


E em bebês surdos?


Petitto e Marentette (1991) realizaram um estudo sobre o balbucio em bebês surdos e bebês ouvintes, no mesmo período de desenvolvimento (desde o nascimento até por volta dos 14 meses de idade), verificaram que o balbucio é um fenômeno que ocorre em todos os bebês, sejam eles ouvintes ou surdos, como fruto da capaciadade inata para a linguagem. Quadros constata que tal capaciade inata é manisfesta não só através de sons, mas também por meio de gestos.


Nos bebês surdos foram detectadas duas formas de balbucio manual: o silábico e a gesticulação. O balbucio silábico apresenta combinações que fazem parte do sistema fonético das línguas de sinais, ao passo que a gesticulação não apresenta organização interna. Os dados apresentam um desenvolvimento paralelo do balbucio oral e do balbucio manual. Petitto e Marentettem afirmam que os bebês surdos e ouvintes apresentam os dois tipos até um determinado estágio e , a partir de então, desenvolvem o balbucio da sua modalidade de lingua. Segundo elas, é por isso que os estudos afirmam que as crianças surdas balbuciamvam (oralmente) até um determinado período. As vocalizações são interrompidas nos bebês surdos assim como as produções manuais são interrompidas nos bebês ouvintes, pois o input, ou seja, as influências linguisticas externas, favorece o desenvolvimento de um dos modos de balbuciar.



Tais conhecimentos se tornam relevantes para nós interpretes de ministério com surdos pois, fazer parte de um ministério não é apenas interpretar cultos, mas também, devemos buscar conhecimentos na área da surdez que com certeza nos auxiliará em nossa interpretação. Acredito que o intérprete não deve apenas aprender sinais isolados, é preciso ter um conhecimento do todo, quero dizer, aprender de tudo o que pudermos nesta área. Deus quer mais de você amigo intérprete! Que o Senhor Jesus nos abençoe nos dando mais conhecimento!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Veio da França.......



Foi da França que saiu o professor surdo Eduard Huet, que veio para o Brasil, especificamente para o Rio de Janeiro, em 1855 com o objetivo de fundar a primeira escola de surdos no Brasil. Huet trouxe uma carta de recomendação de seu projeto elaborada pelo ministro de instrução pública da França, e essa carta, depois de passar nas mãos do ministro da França no Brasil Saint Georg, foi encaminhada ao Marquês de Abrantes que a levou às mãos de Dom Pedro II. “O imperador do Brasil demonstrou total apoio para que o projeto se consolidasse”.


O Instituto de Surdos tem como data oficial de fundação o dia 26 de setembro de 1857, no estado
do Rio de Janeiro. Seu primeiro nome foi Colégio Nacional para Surdos- Mudos (1856-1857), depois chamado sucessivamente de: Instituto Imperial para Surdos- Mudos (1857-1858), Instituto para Surdos-Mudos (1858-1874), Instituto dos Surdos- Mudos (1877-1890), Instituto Nacional de Surdos Mudos (INSM/1890-1957), e finalmente recebeu o nome que continua até os
dias atuais que é o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES/1957-2009).


Essa instituição que sempre esteve ligada ao império brasileiro não perdeu o vinculo quando o Brasil sofreu a transição de império para república, mantendo-se ligada ao governo federal até os
dias de hoje. Huet ficou na direção deste instituto até o final do ano de 1861, onde foi o primeiro e
único surdo a assumir esse posto. Visto que Huet era oriundo da escola francesa que adotava o método combinado, aplicou essa mesma metodologia aos surdos brasileiros. Solange Rocha nos mostra algumas questões que dificultaram, pelo menos nos primeiros anos, o desenvolvimento do instituto. Diz ela: “A novidade de um estabelecimento escolar para educandos surdos, numa organização social que sequer os reconhecia como cidadãos e com o agravante do responsável ser também uma pessoa surda, dificultou o aparecimento de alunos candidatos” .


A sociedade brasileira não via os surdos como cidadãos, e a fundação de uma instituição que atendesse a esse grupo de pessoas parecia que não fazia muito sentido para a população daquela época. O mais agravante é que o próprio diretor da escola era surdo, o que dificultou o desenvolvimento do trabalho, não por falta de capacidade de Huert, mas por falta de crédito por parte das pessoas. Mas apesar das grandes dificuldades que se enfrentaram no início do instituto, ele se manteve de pé e desenvolvendo com o passar dos tempos, e tudo graças à força de vontade que levou Huert e esposa a deixarem a França e darem uma oportunidade aos surdos brasileiros através do instituto dos surdos por eles implantado.


Não se tem relatos sobre a história dos surdos antes da fundação do INES e por esse motivo pode-se dizer que a implantação dessa instituição é um marco da história dos surdos brasileiros. Não se pode falar de história dos surdos brasileiros sem se falar sobre essa centenária instituição, que completou 150 anos em 2007.

Desde que Huet deixou a direção do instituto, muitos assumiram esse cargo, cerca de 28 diretores até 2009, e em cada gestão se utilizavam metodologias diferentes. Diversas são as crises que essa instituição já teve que enfrentar, visto que a maioria dos seus diretores não eram profissionais habilitados na área da educação de surdos. Várias foram as metodologias aplicadas, e quem mais sofria eram os surdos, e esse sofrimento era causado pela falta de preparo por parte dos líderes daquela instituição quanto a questão da surdez. É necessário que se deixe claro que a corrente metodológica que mais influenciou a prática pedagógica no INES foi a oralista, e isso prejudicou muito os surdos brasileiros de uma forma geral. É necessário que se entenda que a língua de sinais sempre esteve presente no instituto de surdos, pois essa sempre foi a forma dos surdos se comunicarem, mesmo que os diretores daquela instituição não aceitassem isso e tentassem reprimi-los quanto à utilização dessa língua. Eles a conheciam e compartilhavam entre si, porém, antes da década de 80, essa língua era utilizada apenas nos bastidores, pois ainda não fazia parte do projeto pedagógico da instituição. Apesar de no ano de 1901 ter culminado uma grande repressão quanto à utilização da língua de sinais, época em que a concepção oralista ganha força na instituição por influência do congresso de Milão de 1880 quando se decidiu que todas as escolas de surdos deveriam utilizar o método oral.


Os surdos continuaram se comunicando, meio que clandestinamente, através da língua de sinais. Sendo o INES uma instituição que atendia as pessoas surdas de todo o Brasil, os surdos que estudaram ali aprendiam uma língua de sinais, e quando voltavam para suas cidades, ensinavam os outros surdos. Por esse motivo que a língua de sinais e sua gênese, em certo sentido, esta muito atrelada á história do INES.


Dentre os diretores que o INES já teve, é importante destacar uma mulher que modificou toda a história deste instituto: foi a professora e fonoaudióloga Lenita de Oliveira Vianna. Ela Assumiu a
direção do instituto no ano de 1985, onde foi recebida com grande alegria pelos professores e funcionários, pois era a primeira diretora especializada na área de surdez. Várias foram as conquistas que Lenita alcançou na sua gestão, e uma das principais foi a criação da PAE (Pesquisa Alternativas Educacionais Aplicadas à Educação dos Deficientes da Audição). Foi a partir dessas pesquisas que a língua de sinais passou a fazer parte do projeto pedagógico do instituto.


Desde a aceitação da língua de sinais na metodologia pedagógica do INES, um novo caminho começou a ser trilhado na história dos surdos brasileiros, e principalmente dos surdos do estado do Rio de Janeiro, local onde se encontra a instituição. Passou-se a respeitar o individuo surdo a partir da sua cultura e modo de apreender o mundo, ou seja, através da visão.


Atualmente o Brasil está vivendo um estado de transição quanto ao reconhecimento das culturas e comunidades surdas. Muitas têm sido as vitórias que os surdos têm alcançado nestes últimos anos, porém, ainda existe muita coisa a ser feita e conquistada. Os ouvintes de uma forma geral precisam se libertar de todo preconceito que por vários séculos oprimiu e marginalizou os surdos, fazendo com que eles possam ser incluídos integralmente na sociedade. O mesmo vale para os surdos, que às vezes se fecham tanto que fica impossível existir essa inclusão, ou melhor, esse viver junto com os diferentes. As mudanças que as culturas e comunidades surdas têm sofrido nos últimos anos são resultados das ações realizadas pelas associações e federações dos surdos, que têm lutado pelos direitos desse grupo, como é o caso da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS) . Fundada em 1987, essa federação tem sido a responsável por várias conquistas dos direitos dos surdos, como por exemplo, o reconhecimento da LIBRAS como língua oficial dos surdos brasileiros. E essa foi sem dúvida a maior conquista na historia dos surdos. "Língua Oficial da Pessoa Surda, com a publicação da Lei nº 10.436, de 24-4-2002 e a Lei nº 10.098, de 19-12-2002". A conquista deste direito traz impactos significativos na vida social e política da Nação brasileira.


Sabendo-se que quase todos os relatos sobre a história dos surdos foram escritos pelos ouvintes, muita coisa pode ter ficado em oculto, ou seja, é possível que os surdos tenham tido uma história muito mais dolorosa do que os livros contam. Owen Wrigley diz que “esta história dos surdos é uma decepção, simplesmente reinvocando e reescrevendo a dominação e a exclusão que têm mais frequentemente sido conhecidas como A crítica que Wrigley está fazendo a história dos surdos é muito pertinente, pois diz respeito ao cerne de todo o problema, isto é, a visão preconceituosa que os ouvintes, autores da história dos surdos, tinham e continuam tendo sobre os surdos. Apenas reescrever essa história não tem nenhuma relevância segundo Wrigley, pois nada é transformado. O que se deve fazer é pensar na história sofrida dos surdos e buscar escrever uma nova história junto com os surdos, um processo em que os próprios possam interferir. O que já sucedeu não pode ser transformado, mas as coisas que estão para acontecer podem ser modificadas, isto é, não se pode transformar o passado, mas se pode construir um presente melhor e acredito que o desenvolvimento da história dos surdos está nos levando à isso.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Deus tem sido muito bom com a gente...


Queridos no último fim de semana estivemos envolvidos em uma grande celebração de gratidão a Deus pelos 17 anos da nossa amada IBACEN. Que culto maravilhoso! E quantas surpresas que alegraram nossos corações. Ao olharmos para trás e vermos que desses 17 anos de IBACEN, nós do ministério com Surdos já estamos há 7 anos servindo a Deus neste ministério que nasceu no coração de Deus e no coração da IBACEN ficamos muito alegres em Deus. Então nossas palavras são de gratidão primeiramente a Deus e também a você IBACEN por apoiar e sonhar com a gente. Obrigada IBACEN pelo investimento, pelo tempo dedicado, pela paciência, pela cobertura espiritual e principalmente pelo pastoreio. Não temos o que reclamar, Deus nos deu uma igreja calorosa que tem sonhado conosco. Sonhado com uma igreja bilíngue e inclusiva; Deus nos deu um Pastor que sonha conosco mesmo que alguns de nossos sonhos pareçam distantes; Deus nos deu pessoas que são servas de Cristo, é verdade que muitas já vieram e se foram deixando saudades, porém, Deus sempre esteve sustentando este ministério mesmo nos maiores desertos. Os sonhos de Deus não podem morrer como já disse o cantor.

Temos um grande desafio como ministério com surdos implantado em Angra dos Reis, a frieza espiritual na comunidade surda ainda é muito grande, urge um clamor para que o fogo do Espírito desperte os adormecidos do Senhor, o que conforta nossos corações é saber que "Deus tem muitos surdos nesta cidade!" Por isso IBACEN, fica nossa gratidão a você, que apoia, investe e chora com a gente. Em nosso culto louvamos a Deus junto com o ministério de Dança com uma música do cantor Fernandinho que é uma profecia para você IBACEN amada: "Grandes coisas estão por vir...Grandes coisas vão acontecer neste lugar..." O profeta Isaías completa nossas palavras:


"Não vos lembreis das causas passadas nem considerais as antigas, eis que faço uma coisa nova, não a percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo" Isaías 43.18-19


Não temos dúvidas alguma: Deus tem sido muito bom com a gente!!!! Parabéns IBACEN e obrigado por você existir em nossas vidas.